segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Faça

Quando se quer que as coisas aconteçam, é necessário agir - sair da zona de conforto e tomar as atitutes necessárias. Esperar placidamente não resolve. É claro que nem tudo depende de nós, do nosso esforço. Mas ficar sem ação e se lamentar depois que nada aconteceu e não se conseguiu aquilo que se queria não faz o menor sentido. Eu não sou muito afeita a livros de auto-ajuda, do tipo "O poder sem limites" ou "O poder está dentro de si", mas acho que o olhar e a atitude que temos diante da vida faz uma grande diferença.

Estava pensando nisso enquanto assistia pela enésima vez ao filme Sob o sol da Toscana (2003), de Audrey Wells. O filme conta a história de Frances, uma escritora interpretada pela talentosa Diane Lane (Mar em Fúria e Infidelidade). Começa com Frances vivendo uma crise pós-divórcio, numa letargia doída que comove sua amiga Patti, personagem de Sandra Oh (a Drª Cristina Yang, de Grey's Anatomy), que decide dar de presente a Frances uma viagem de 10 dias pela Toscana, no coração da Itália. É então que o inesperado acontece: Frances, num impulso legítimo e produtivo, compra uma casa praticamente abandonada, chamada Bramasole - "algo que anseia pelo sol". De posse da nova casa - um novo projeto para sua vida - se envolve na reforma, à medida que vai conquistando novas amizades, se familiarizando com a cultura local, o estilo de vida, e vai redescobrindo prazeres esquecidos, como o de sorrir, percebendo que a tristeza e a sensação de estar sem chão não dura para sempre e que ela pode se apaixonar mais uma vez. Ou seja: ainda que nossa jornada seja incerta, há sempre uma segunda chance. Mas é preciso estar aberto para isso. Frances se permitiu uma nova oportunidade, deu um novo sabor à sua vida. Foi intensa. E fez o que precisava para seguir adiante, para não ficar atolada nos pântanos do passado.

A fotografia do filme é espetacular. Os personagens são fantásticos. Alguns emblemáticos, como o velho com flores e a atriz. Mas um elemento é a peça-chave: o uso constante do simbolismo. A partir do nome da casa - Bramasole - que nos convida a nos abrir para o novo, a deixar o sol entrar na nossa vida, nos iluminar a existência. Outro símbolo importante é a reforma - Frances parte numa reforma da casa, mas que também significa reformar seu mundo interior e sua vida prática também. Para tanto, ela necessita de bons parceiros. Precisa também ser cuidadosa, porque toda reforma inclui certo risco; também é cansativo e em certo momento podemos perder a paciência e querer que acabe logo; é um investimento financeiro (e emocional) e às vezes temos receio do quanto vai custar. É preciso sempre ousadia para reformar o que está velho, mas o resultado é compensador. Outro símbolo é o número três - Esse é um número recorrente no filme: Frances leva consigo três caixas em sua mudança; a casa que compra tem três séculos de construída; nela, há três quartos; os trabalhadores que a ajudam na reforma são três; três também são os homens de sua vida (o ex-marido, o amante e o novo amor); Frances faz três preces para a imagem que está na cabeceira de sua cama. O 3 é número cabalístico, cuja interpretação está relacionada ao equilíbrio e à união: 3 figuras da santíssima trindade; três poderes do Estado; três dimensões da condição humana etc. A fonte é mais um símbolo utilizado no filme - uma torneira no meio de sua sala é usada para remeter à própria essência da alma de Frances. De início, Frances nem percebe sua existência; depois, ao enxergá-la, vai abri-la e percebe que ela está seca - em associação ao que diz sua amiga italiana: "você parece um buraco negro", para dizer que ela está seca por dentro. Depois a torneira começa a pingar, indicando que a vida inicia novamente - cada pingo é o indício de que a vida começa a fluir de novo - simboliza o rejuvenescimento. Outro símbolo presente é a figura da joaninha. Esse é um inseto simpático e delicado. Segundo dizem, quando ele escolhe nosso dedo para pousar é sinal de que somos afortunados e temos direito a um pedido - prestando atenção para o lugar para onde ela irá voar, pois é de lá que virá a sorte. Seguindo a crendice popular, o filme mostra na cena final, quando Frances se recosta na cadeira para descansar, uma joaninha pousando no seu braço, querendo indicar que finalmente a vida dela se encherá de ânimo novo, com sorte, felicidade e amor.

Sempre me encanto com esse filme. A alguns pode parecer inicialmente uma proposta açucarada. Mas se mergulhamos na sua tessitura, podemos compreender as peças que engendram nossa própria existência, tecida com fios da realidade tanto quanto do sonho. Mas de tudo o que aborda o filme, para mim, o mais marcante é a atitude da personagem - ela parte para uma nova etapa de sua vida, mesmo com todos os conflitos, todos os receios, toda a carga emocional em que está envolvida dadas as circunstâncias - ela age, se movimenta - faz alguma coisa - sai do plano para a ação. Nem bem há um plano, e talvez seja isso mesmo, não dá planejar cada passo de nossa vida sem ser um pouco neurótico - e a neurose não nos é bem-vinda.

Isso me lembra uma música de Lenine: "Do it", em que ele diz literalmente: quer alguma coisa? Faça: "corra atrás da lebre". Deixo a letra e o vídeo abaixo para vocês fazerem suas reflexões.

Xero dos grandes a todos.


DO IT  (Lenine)

Tá cansada, senta
Se acredita, tenta
Se tá frio, esquenta
Se tá fora, entra
Se pediu, agüenta
Se pediu, agüenta...
Se sujou, cai fora
Se dá pé, namora
Tá doendo, chora
Tá caindo, escora
Não tá bom, melhora
Não tá bom, melhora...
Se aperta, grite
Se tá chato, agite
Se não tem, credite
Se foi falta, apite
Se não é, imite...
Se é do mato, amanse
Trabalhou, descanse
Se tem festa, dance
Se tá longe, alcance
Use sua chance
Use sua chance...
Hê Hô, Hum! Nanananã!
Hê Hô, Hum! Nanananã!
Hê Hô, Hum! Nanananã!
Hê Hô!, Hum!...
Se tá puto, quebre
Ta feliz, requebre
Se venceu, celebre
Se tá velho, alquebre
Corra atrás da lebre
Corra atrás da lebre...
Se perdeu, procure
Se é seu, segure
Se tá mal, se cure
Se é verdade, jure
Quer saber, apure
Quer saber, apure...
Se sobrou, congele
Se não vai, cancele
Se é inocente, apele
Escravo, se rebele
Nunca se atropele...
Se escreveu, remeta
Engrossou, se meta
E quer dever, prometa
Prá moldar, derreta
Não se submeta
Não se submeta...
Hê Hô, Hum! Nanananã!
Hê Hô, Hum! Nanananã!
Hê Hô, Hum! Nanananã!
Hê Hô! Hum!...(2x)


Barrinha MaynaBaby

Nenhum comentário: