sábado, 8 de outubro de 2011

Pela Lente da Alteridade



Tenho três filhos. Dois meninos, uma menina - filha do meio. Esta é uma moça linda e adorável - mas extremamente alérgica. Sofre de asma e é sempre um tormento em época de crise, quando praticamente nos mudamos para o hospital.

Foi num desses hospitais, numas dessas situações de crise, que me ocorreu um fato interessante. Não era um hospital novo. Normalmente íamos a ele. Há, no hall principal, uma cafeteria, aonde sempre vou quando tudo está mais normalizado. A pessoa que me atende é sempre a mesma. O que quer dizer que já tivemos vários encontros.

Mas nosso último foi diferente. Fiz todo o ritual de sempre, aflita com a respiração da minha filha, e quando tudo ficou mais tranquilo, muitas horas e várias nebulizações depois, fui tomar um café. E desta vez algo diferente - fora do script - aconteceu. Fiquei em pé, no balcão, tomando lentamente meu café, pensando na vida e observando a simpática atendente. É uma moça simples e agradável. E eu, que puxo conversa até quando peço informações, ao me ver sozinha com a moça, começo a conversar e a deixá-la falar sobre aquilo que desejasse.

Saber ouvir é uma característica minha. Gosto muito de ouvir as pessoas, tenho paciência para escutá-las, tenho paciência para permitir que elas falem sem interrompê-las, ou sem necessitar falar na mesma proporção. Foi assim nesse dia. Deixei que a moça falasse e me surpreendi com sua clareza de espírito, com a forma segura e ética como entendia a vida. Escutei-a falar sobre família, cuidados com filhos, relacionamentos, desejos e aspirações, sobre como conduzia seus objetivos, o que fazia para alcançá-los, sempre com muita lucidez. Aprendi muito com aquela moça, que já tinha mais de trinta, mas com uma cara de menina.

Prestar atenção ao que ela tinha para dizer me proporcionou um momento bom de reflexão. Enquanto ela falava de sua vida e de como se comportava em sua jornada, ia pensando na minha, nos meus atos, nos meus movimentos. O interessante é que fiquei surpresa. Não esperava que aquela conversa inicialmente despretenciosa me fizesse pensar sobre tantas coisas. Também não esperava tanta profundidade no vão de uma conversa simples num café.

Saí dali para voltar a dar atenção à minha filha, levando mais que suco de laranja e croissant. Saí dali pensando também  que muitas vezes perdemos a chance de crescer como pessoa, de aprender coisas novas, de ver a vida por outras perspectivas, só porque não ouvimos o outro. Ao invés de falar esquizofrenicamente sem prestar atenção ao que está ao nosso redor, devemos nos permitir ouvir o que os outros têm a dizer, porque isso tem um duplo papel: é um ato de generosidade - quantas pessoas não precisam de alguém que as escute com atenção e interesse? - e é uma oportunidade de crescimento, de desdobramento em algo maior, que vai além de nosso mundo particular, de nossa lente pessoal, e faz com que nossa visão se alargue diante de uma grande angular.



Barrinha MaynaBaby

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