Vontade e Desejo. Quase irmãs siamesas. Complementares. Cada qual tem a sua individualidade suas características próprias e suas funções, mas ambas, para serem sadias, precisam ser interdependentes, uma precisa da outra para garantirem os movimentos de contração e expansão próprios da existência humana.
Desejo é paixão, é arrebatamento, é expansão. Nasce da imaginação, da fantasia, do sonho. E é exigente e impaciente: quer tudo ao mesmo tempo - agora! Não compreende o tempo, na verdade, não o suporta, precisa de satisfação imediata.
Vontade é decisão, é discernimento, pode ser tanto expansão quanto contração. Nasce da reflexão, do pensamento amadurecido, ponderado. Assim, o tempo, para ela, é mais um amigo, é aquele que a ajuda a realizar-se. O esforço e o bom senso trabalham considerando o meio e os fins e aceitam que a satisfação não seja imediata.
Existem, então, três características fundamentais da vontade que a distinguem do desejo: 1- Esforço para superar os obstáculos materias, físicos e psíquicos - persistência, obstinação, permanência são suas marcas, por isso falamos em força de vontade. 2- Reflexão antes da ação - pensar, medir, comparar, observar, julgar, enfim, avaliar para então realizar a tomada de decisão. 3- Responsabilidade - a vontade realiza-se no plano do possível, do que pode ser ou pode deixar de ser, daquilo que tem condições de acontecer a partir de um ato voluntário.
Mas vontade sem desejo não se realiza. É propriamente o desejo que permite o ensejo dos motivos interiores e os objetivos exteriores para que a vontade se concretize numa ação. Se cabe à vontade educar moralmente o desejo, cabe ao desejo impulsionar a vontade, dar-lhe motivação necessária para a sua concretização.
Então vontade e desejo, juntamente com consciência, formam a tríade que dão estrutura à vida ética, sendo a consciência e o desejo responsáveis pelas intenções e motivações e a vontade responsável pelas finalidades e ações. As intenções e motivações estão para a qualidade das atitudes e sentimentos internos do sujeito assim como as ações e finalidades estão para a qualidade das atitudes externas, ou seja, a conduta e o comportamento deste mesmo sujeito.
Muito se poderia discutir acerca desse tema, dentro de uma perspectiva filosófica. Há correntes de pensamento diversas, como o racionalismo ético, o emotivismo ético, e mesmo o pensamento nietzscheano, muitas vezes chamado de irracionalismo, que propõe uma genealogia da moral. Mas penso que cada um de nós compreende a importância de dar o espaço e o peso adequados à vontade e ao desejo em nossa existência - ou seja: a medida certa, o equilíbrio. Na nossa vida prática e na nossa vida afetiva, precisamos de ponderação, de reflexão, de fazer bom juízo dos fatos e planejar nossas ações, mas não podemos deixar de dar vazão às nossas emoções, às paixões, aos desejos, à expansão da força vital.
Do contrário, ficamos apenas no plano e não conseguimos nos satisfazer, perdemos a oportunidade de sentir prazer, de viver em plenitude tudo o que podemos. E, por melhor que seja a partitura, nada se compara à musica executada. Assim, façamos uma reflexão profunda das nossas possibilidades, mas sem o peso da severidade excessiva, e sim graciosamente leve como o levitar dos colibris.
Um comentário:
Como sempre, shoooowww de bola! Lindo texto.
Concordo contigo, Ana. Acho, ainda que, se existem mil maneiras para se ser feliz, a mais adequada é, sem dúvida, através da realização dos nossos sonhos. E estes são frutos do desejo; a sua realização, o movimento ocasionado pela vontade de tê-los concretizados. Portanto, nada de gasolina, etanol, ou biodiesel: sejamos movidos a sonhos (que não poluem, não requerem investimentos materiais para serem idealizados, não são caros, não são ilegais, imorais, ou engordam).
Sejamos movidos a sonhos...
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