Eram tão diferentes, tudo conspirava contra os dois, pouco havia de comunhão. Mesmo assim, aconteceu de seus destinos se cruzarem numa das voltas dessa roda-viva que se convencionou chamar existência.
Ele era um menino. Lindos olhos e sorriso desabrochado ao vento. Aliás, foi o sorriso que a encantou. Da vida, pouco sabia. Tinha a inquietação típica das almas prenhes de juventude, mas, ao mesmo tempo, um gesto manso. Era, a um só turno, meigo e arrebatador.
Ela era uma mulher. Uma mulher inteira, completa, de uma maturidade terna. Mas os olhos de menina revelavam uma personalidade vivaz, um caráter cativante. Tinha uma beleza madura e sensual, um jeito de se mover que fazia todos paralisarem diante dela, uma voz suave, um olhar meigo e adolescente que cativava e seduzia. Embora da vida tivesse muito o que dizer, tinha mesmo uma fome de viver legítima e apaixonante. A vida, para ela, era sempre agora.
Os dois se sabiam antes de se conhecerem. Quando se viram, logo entenderam que seriam um do outro. Nada foi combinado, definido antecipadamente. Não era preciso explicação, não se exigia esclarecimento. Bastava aquela compreensão de que o inevitável aconteceria.
Se para os dois, no seu mundo particular do amor, tudo era muito natural, para as outras pessoas, as mais próximas, aquilo era um desatino.
"Como Pedro vai se arrumar com uma mulher dessas? Não tá vendo que ela não tem idade para se envolver com garotos?". "Pouca vergonha, isso sim!".
"O que foi que uma mulher como Gabi viu num menino daqueles?". "Quase podia ser seu filho!". "O que ele tem a oferecer a ela?".
Gabi pouco queria saber o que Pedro oferecia. Ou melhor, sabia sim: Pedro oferecia seu afeto, oferecia seus carinhos tímidos, seu sorriso arrebatador. Oferecia sua juventude cheia de brilho, de movimento, de vida em pulsação latente. Isso fazia Gabi sentir-se uma menina, enrubecida pala sedução despudorada de Pedro.
Pedro, por sua vez, não via em Gabi suas marcas de expressão, enxergava para além disso, percebia a mulher forte e frágil ao mesmo tempo, a sua suavidade, a sua doçura, o seu desejo de viver em plenitude, a sua segurança tranquila e a forma mágica de sorrir e dizer "calma, tudo vai dar certo!". E dava. Impressionava a sua sensualidade madura e ao mesmo tempo inquieta, o olhar buliçoso, o jeito de sorrir abaixando os olhos, o modo de dizer baixinho "eu te amo!" ao seu ouvido, depois do amor.
No início, Gabi se sentia insegura. Foram tantas as decepções em sua vida que ela não acreditava despertar um interesse real, desprovido de intenções duvidosas. Havia criado uma espécie de couraça, uma capa protetora, para evitar sofrer. Mas isso era terrível para ela. Primeiro, porque era da sua natureza acreditar nas pessoas - e resistir a isso era difícil, quase um tormento; depois, porque essa resistência a fazia pensar que o problema estava nela, era ela - e não os outros - que não tinha predicados suficientes para fazer alguém interessante apaixonar-se por ela e desejar comprometer-se. Além disso, sentia-se só, queria viver uma linda história, mas achava que isso não mais aconteceria com ela.
Já Pedro sequer pensava em qualquer problema. Encantou-se por Gabi. Tinha por ela desejo. E, certamente, sentia-se mais forte junto dela, afinal era o menino que conseguia conquistar a mulher madura e bem resolvida. É claro que isso lhe dava uma sensação de poder. Mas conviver com Gabi foi lhe possibilitando maior amadurecimento. Pedro passava como um trator por cima de tudo, não media consequências; queria tudo para hoje, sem entender por que às vezes não podia ser assim - era ansioso e impaciente. Com Gabi, aprendeu a olhar para os lados, a perceber a beleza do caminho, a aproveitar o percurso, a rir dos tropeços, a esperar o tempo certo para colher as frutas.
Os paralelos de suas vidas se cruzaram. Sempre muito racional, Gabi dizia para si mesma que deveria ser uma ilusão de ótica, como acontece com os trilhos do trem; mas não era lá longe que se via esse entrecruzamento de emoções, era aqui perto, era no agora - desconsiderar isso era tentar negar o sentimento real que os encapsulava.
Enfim, ela decidiu que viveria um dia de cada vez, que não queria a felicidade toda em dose única, como no fim de um filme, queria em prestações diárias. Acordava de manhã, enchia os pulmões de ar, olhava para Pedro que dormia um sono manso e despreocupado, e decidia que seria feliz naquele dia.
Assim seguiram com suas vidas, com o pacto de que iriam procurar se compreender antes de qualquer embate, sabendo que, no núcleo do respeito que nutriam um pelo outro, havia sinceridade de intenções. Era um pacto muito simples: seriam amigos, antes de serem amantes - jamais deixariam de ser, porque seriam de um tipo raro, os verdadeiros, e sendo assim não haveria possibilidade de mutação - seriam amigos a vida inteira, que é como são os amigos de verdade.
Preocupados em garantir a felicidade do outro, esqueciam a busca frenética por lampejos fugazes de felicidade particular; queriam uma felicidade compartilhada, uma felicidade plural. E perceberam que ela não está nos momentos apoteóticos, está nos gestos simples, nas coisas mais prosaicas, nas revelações cotidianas do amor.
Seguiram assim suas vidas, enredados numa teia de generosidade e delicadeza que constituía a tessitura desse sentimento que se expandia e se dilatava dentro deles.
Ela era uma mulher. Uma mulher inteira, completa, de uma maturidade terna. Mas os olhos de menina revelavam uma personalidade vivaz, um caráter cativante. Tinha uma beleza madura e sensual, um jeito de se mover que fazia todos paralisarem diante dela, uma voz suave, um olhar meigo e adolescente que cativava e seduzia. Embora da vida tivesse muito o que dizer, tinha mesmo uma fome de viver legítima e apaixonante. A vida, para ela, era sempre agora.
Os dois se sabiam antes de se conhecerem. Quando se viram, logo entenderam que seriam um do outro. Nada foi combinado, definido antecipadamente. Não era preciso explicação, não se exigia esclarecimento. Bastava aquela compreensão de que o inevitável aconteceria.
Se para os dois, no seu mundo particular do amor, tudo era muito natural, para as outras pessoas, as mais próximas, aquilo era um desatino.
"Como Pedro vai se arrumar com uma mulher dessas? Não tá vendo que ela não tem idade para se envolver com garotos?". "Pouca vergonha, isso sim!".
"O que foi que uma mulher como Gabi viu num menino daqueles?". "Quase podia ser seu filho!". "O que ele tem a oferecer a ela?".
Gabi pouco queria saber o que Pedro oferecia. Ou melhor, sabia sim: Pedro oferecia seu afeto, oferecia seus carinhos tímidos, seu sorriso arrebatador. Oferecia sua juventude cheia de brilho, de movimento, de vida em pulsação latente. Isso fazia Gabi sentir-se uma menina, enrubecida pala sedução despudorada de Pedro.
Pedro, por sua vez, não via em Gabi suas marcas de expressão, enxergava para além disso, percebia a mulher forte e frágil ao mesmo tempo, a sua suavidade, a sua doçura, o seu desejo de viver em plenitude, a sua segurança tranquila e a forma mágica de sorrir e dizer "calma, tudo vai dar certo!". E dava. Impressionava a sua sensualidade madura e ao mesmo tempo inquieta, o olhar buliçoso, o jeito de sorrir abaixando os olhos, o modo de dizer baixinho "eu te amo!" ao seu ouvido, depois do amor.
No início, Gabi se sentia insegura. Foram tantas as decepções em sua vida que ela não acreditava despertar um interesse real, desprovido de intenções duvidosas. Havia criado uma espécie de couraça, uma capa protetora, para evitar sofrer. Mas isso era terrível para ela. Primeiro, porque era da sua natureza acreditar nas pessoas - e resistir a isso era difícil, quase um tormento; depois, porque essa resistência a fazia pensar que o problema estava nela, era ela - e não os outros - que não tinha predicados suficientes para fazer alguém interessante apaixonar-se por ela e desejar comprometer-se. Além disso, sentia-se só, queria viver uma linda história, mas achava que isso não mais aconteceria com ela.
Já Pedro sequer pensava em qualquer problema. Encantou-se por Gabi. Tinha por ela desejo. E, certamente, sentia-se mais forte junto dela, afinal era o menino que conseguia conquistar a mulher madura e bem resolvida. É claro que isso lhe dava uma sensação de poder. Mas conviver com Gabi foi lhe possibilitando maior amadurecimento. Pedro passava como um trator por cima de tudo, não media consequências; queria tudo para hoje, sem entender por que às vezes não podia ser assim - era ansioso e impaciente. Com Gabi, aprendeu a olhar para os lados, a perceber a beleza do caminho, a aproveitar o percurso, a rir dos tropeços, a esperar o tempo certo para colher as frutas.
Os paralelos de suas vidas se cruzaram. Sempre muito racional, Gabi dizia para si mesma que deveria ser uma ilusão de ótica, como acontece com os trilhos do trem; mas não era lá longe que se via esse entrecruzamento de emoções, era aqui perto, era no agora - desconsiderar isso era tentar negar o sentimento real que os encapsulava.
Enfim, ela decidiu que viveria um dia de cada vez, que não queria a felicidade toda em dose única, como no fim de um filme, queria em prestações diárias. Acordava de manhã, enchia os pulmões de ar, olhava para Pedro que dormia um sono manso e despreocupado, e decidia que seria feliz naquele dia.
Assim seguiram com suas vidas, com o pacto de que iriam procurar se compreender antes de qualquer embate, sabendo que, no núcleo do respeito que nutriam um pelo outro, havia sinceridade de intenções. Era um pacto muito simples: seriam amigos, antes de serem amantes - jamais deixariam de ser, porque seriam de um tipo raro, os verdadeiros, e sendo assim não haveria possibilidade de mutação - seriam amigos a vida inteira, que é como são os amigos de verdade.
Preocupados em garantir a felicidade do outro, esqueciam a busca frenética por lampejos fugazes de felicidade particular; queriam uma felicidade compartilhada, uma felicidade plural. E perceberam que ela não está nos momentos apoteóticos, está nos gestos simples, nas coisas mais prosaicas, nas revelações cotidianas do amor.
Seguiram assim suas vidas, enredados numa teia de generosidade e delicadeza que constituía a tessitura desse sentimento que se expandia e se dilatava dentro deles.
Um comentário:
Simples assim! ;)
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