terça-feira, 31 de maio de 2011

Dia Mundial Contra o Tabaco

Hoje é o Dia Mundial Contra o Tabaco. Como todos os outros Dias Mundiais, este tem como principal função ensejar uma reflexão. Neste caso, a principal pergunta é: como é possível que uma pessoa possa deliberadamente aspirar uma fumaça tóxica que envenena seu organismo e que reduz visivelmente sua qualidade e seu tempo de vida?

Os números são alarmantes - no Brasil, 1/3 da população é fumante e 50% dos fumantes morre em decorrência de complicações causadas pelo cigarro. Hoje, inúmeras manifestações ocorreram numa luta importante por esclarecimento e conscientização.

Para a geração anterior à minha, fumar dava charme, conduzia ao sucesso e estava associado a uma vida emocionante, cheia de aventuras. Da minha geração pra cá, essa falácia vem sendo desfeita e as coisas vêm mudando significativamente: não é permitido as indústrias de cigarro fazerem propaganda, é obrigatório deixar clara a advertência do Ministério da Educação na embalagem do produto de que, apesar de legal, este faz mal um considerável à saúde, o cerco tem se fechado cada vez mais e há cada vez menos lugares onde o fumante possa fazer uso do cigarro.

Tenho pais fumantes. Bem sei como é difícil tentar parar de fumar. Sinto pelas pessoas que fizeram essa tentativa e ainda não conseguiram. Mas tenho fé nelas. Acredito no seu potencial de determinação em deixar de fazer uso de uma droga que traz efeitos tão nocivos. Mas, sobretudo, espero que hoje ninguém tenha dado início a esse hábito. Se é tão difícil parar, não começar é algo extraordinariamente mais simples e que pode, sem dúvida alguma, livrar de um vício voraz. O maior problema está em começar. Esse é que é o grande absurdo.
Barrinha MaynaBaby

Mentiras Sinceras

Na madrugada de hoje, assisti a um filme maravilhoso - "Mentiras Sinceras". Estava insone, o que no meu caso é comum, e estava vendo toda a programação da TV, enquanto ouvia música e rabiscava coisas no papel, quando deparei, de repente, com essa pérola.

Mentiras Sinceras (2005) é um drama inglês dirigido por Julian Fellowes e protaginozado por Emily Watson e Tom Wilkinson. Tem um roteiro enxuto e preciso (84 min) e faz uma abordagem elegante das relações humanas, conseguindo condensar de forma digna temas como traição, assassinato, roubo, doença terminal, lealdade e amor.

O nome me chamou à atenção e comecei a pensar que ele não é tão incoerente como se pode julgar num primeiro momento. Pode haver mentiras sinceras? E refleti: quantas vezes as pessoas são levadas a mentir por algo maior do que elas, uma necessidade, e depois isso as engole e as imobiliza - e então sufocadas pela mentira, só lhes resta debulhar a verdade, que permite a redenção?



O filme começa com uma paisagem tipicamente inglesa e a câmera vai fechando de uma maneira tão austera que me lembrou "Vestígios do Dia" (1993) - uma obra prima, de James Ivory, com Anthony Hopkins e Emma Thompson. De início, o narrador, que é um dos personagens centrais da trama, diz: "Nenhuma vida é perfeita, embora possa parecer. Os segredos escondem-se por baixo das superfícies suaves. Nisso, como noutras coisas, a minha vida não foi exceção". Ajeite-me na cama e pensei "esse vai ser bom". E realmente foi muito bom ter ficado zapeando até aquela hora.

O enredo não é tão fabuloso e algumas pessoas poderiam julgar os diálogos monótonos, sobretudo porque normalmente as pessoas querem movimento, eletricidade, rapidez. Em Mentiras Sinceras, a grande marca é a tensão. A tensão nas palavras, nos gestos, nas expressões é a grande costura do filme, que aborda com profundidade aspectos da vida cotidiana, como um casamento marcado pelo peso da convenção, em que há traição e amor ao mesmo tempo, dores, mágoas e ressentimentos, mas também perdão; fala de amizade, gratidão e compaixão; aborda abnegação e entrega; questiona como nossas ações podem ser diferentes com relação a uma mesma situação, dependendo do que está envolvido; mostra como somos capazes de arrumar argumentos diferentes e até opostos para justificar o mesmo fato, dependendo da motivação.

Muitos ingredientes dão ao filme um tempero especial: uma fotografia belíssima, a excelente caraterização das personagens, uma direção correta, responsável certamente por explorar bem a atuação das personagens, a articulação do texto e a maneira como o enredo progrediu, de modo a fugir ao lugar comum.

Mas há uma cena no final que vale o filme todo - bastaria essa cena, tão bem dirigida e repleta de entrega e sentimento para justificá-lo. Um homem, parado na chuva, diz a uma mulher tudo o que deveria ter dito há muito tempo, tudo o que ela deveria ter escutado, toda a sua verdade interior. Que maravilha! Fiquei emocionada. Extasiada. E pensei em como é importante falar. E em como isso é libertador para quem ouve. O silêncio é opressor, o silêncio aprisiona, o silêncio mina todas as relações.

Temos medo talvez de nos revelar, de dizer o que sentimos, de nos desnudar. Vamos nos escondendo atrás de capas de silêncio e não conseguimos romper essa casca que nos engessa e nos impede de ter relações intensas e verdadeiras.

Falar o que se sente, o que se deseja, o que se pensa é um ato de generosidade. Quantas vezes deixamos de dizer aos nossos filhos que os amamos, a algum amigo que o perdoamos, ao marido ou à esposa que sentimos muito? Quantas vezes não calamos, deixando de dizer que sentimos falta de alguém? Quantas vezes, boicotando nosso sentimento, não conseguimos dizer que estamos apaixonados? Deixamos o outro com uma dúvida mordaz. E, com isso, o aprisionamos e deixamos de viver o real e válido da vida. E, então, lembro aqui de Lya Luft, escritora gaúcha, que diz: " Boa parcela dos sofrimentos entre as pessoas nasce do desencontro e da incomunicabilidade".

É isso. Falar é um gesto de amor.


Barrinha MaynaBaby

domingo, 29 de maio de 2011

Confissões


Meu pensamento passeia
na tarde morna,
entre o balançar dos galhos das árvores.
Ele voa como pardais inquietos
procurando uma sombra que os ampare.
Depara-se com a maciez da relva
e fica enternecido com sua generosidade.
Nela se deita
se acolhe
se protege.
Ela o afaga 
e lhe diz baixinho:
- Confia em mim!
E ele se entrega sem medo
debulhando seus segredos mais profundos
e aliviando mansamente
suas emoções.

(Ana Paula Sobreira)
Barrinha MaynaBaby

(In)Gratas (Im)Possibilidades

Como sustentar

O ímpeto de gritar
A plenos pulmões
O sentimento que aperta o peito?

Como impedir
Que os olhos denunciem
Por trás da mansidão aparente
O turbilhão de desejos entorpecentes?

Como suportar
Ver sem tocar
Estar ao lado
E sentir-se distante
Querer ter
E enxergar-se impotente
Sem o vislumbre das gratas possibilidades?

(Ana Paula Sobreira)
Barrinha MaynaBaby

sábado, 28 de maio de 2011

Adorável Cullum

Sou uma apaixonada por música. Não sei viver sem ela. E meu ecletismo beira o impensável – gosto do melhor de tudo: Rock, Pop, Soul, Jazz, Blues, Hip Hop, Forró (amo dançar, ai, ai), Coco, Xaxado, Baião, Maracatu, Samba de Raiz,música erudita, uma deliciosa MPB, com toda a sua bossa, e depois de umas duas taças de vinho (suave – muuuito doce – que me perdoem os enólogos), encaro um Funk e um Brega (aliás, parabéns a dois queridos grupos pernambucanos especializados em Brega: Faringes de Paixão e No Falo Americano – que trabalho de qualidade! Uma releitura interessante e divertida dos clássicos do Brega). Sou, pois, partidária do pensamento de Nietzstche, que disse: “sem música, a vida seria um erro”. Bem, a minha tem uma trilha sonora, e acho que a de todo mundo também. Quantas vezes a gente não se pega revisitando alguma paisagem do passado ao ouvir determinada música? E cada momento que se vive, tem ou não tem uma música certinha pra ele, que cai como uma luva? A gente até diz às vezes: “rapaz, essa música foi feita pra mim!”. Ou pra nós – rsrsrs – os casais apaixonados que o digam.

Assim, sou uma incansável quando o tema é música, saio por aí buscando tudo, ouvindo o que posso e, apesar de total amadora no assunto, me atrevo até a dar pitaco às vezes. Ouço a música tentando sorver tudo: não apenas a melodia ou a letra (quando tem), mas cada elemento que a compõe. Penso na harmonia, tento ouvir o som de cada instrumento, busco discriminá-lo dentro do conjunto melodioso dos sons que constituem a música, percebo o arranjo e tento pensar em outras possibilidades, penso em releituras, em como a música poderia funcionar em outros ritmos diferentes do original. Enfim, procuro absorver tudo que posso, me embriagar. Ou então não – fico apenas me deleitando, entregue a ela, ou até alheia a ela, numa viagem pela minha linha do tempo, conduzida pelos acordes.


Há algum tempo, descobri, encantada, um músico extremamente talentoso, que tem um trabalho riquíssimo. Um menino lindo, brilhante, carismático. Apaixonei-me na hora, claro – amor à primeira música. Falo de Jamie Cullum. Esse fantástico cantor, compositor, pianista, guitarrista e baterista inglês, de Essex, tem já seus 31 anos, mas não deixa de ser um menino – vivaz, leve, cheio de energia – preenche o palco e nos deixa de olhos e ouvidos vidrados. Cullum é cantor e pianista de jazz e tem sido considerado uma referência na recriação desse gênero, uma vez que faz belíssimas recriações de músicas antigas, numa nova linguagem, com um tempero delicioso do pop, do soul e de outros gêneros que dão uma roupagem inusitada à sua música, como ele mesmo diz: “o futuro do jazz é misturá-lo com outros gêneros”. Famoso também por seus covers extraordinários e shows sempre muito diferentes um do outro, Cullum muitas vezes decide na hora o que vai tocar – o que demonstra não apenas sua versatilidade, mas também seu dinamismo.

Com uma discografia impecável, Jamie Cullum nos brinda com trabalhos maravilhosos. Começou a estudar piano e guitarra aos 8 anos, tendo como inpiração nomes como nada menos que o de Miles Davis, aos 18 foi morar em Paris, onde se aperfeiçoou e ampliou seu caldo cultural. De volta à Inglaterra, estudou Literatura, Cinema e Teatro, na Reading University. Ainda estudante (aos 19 anos), lançou seu primeiro álbum “Heard It All Before” e seu disco mais recente tem como título “The Pursuit” (2009), inspirado no clássico romance de Nancy Mitford, “The Pursuit of Love”. Cullum se prepara para lançar agora em 2011 seu novo álbum, em que ele promete canções inéditas. Sem dúvida, será mais um presente que esse músico brilhante generosamente nos dará. Só nos resta aproveitá-lo, de tantas maneiras quantas sejam possíveis. Um brinde a Cullum!

Ver também:

http://www.myspace.com/jamiecullum

Para deleite:








Barrinha MaynaBaby

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Amizade


Um amigo, muito sabiamente, respondendo a um questionamento meu, me disse que para ser feliz é preciso ter amigos - concordo muito. E, pensando nisso, lembrei de um texto de Jorge Luís Borges, que é lindo e altamente representativo desse meu pensamento sobre amizade. Dou de presente a todos os meus querido amigos. Um beijo na alma.



“Não posso dar-te soluções para todos os problemas da vida, nem tenho resposta para as tuas dúvidas ou temores, mas posso ouvir-te e compartilhar contigo.
Não posso mudar o teu passado nem o teu futuro, mas quando necessitares de mim estarei junto a ti.
As tuas alegrias, os teus triunfos e os teus êxitos não são os meus, mas desfruto sinceramente quando te vejo feliz.
Não julgo as decisões que tomas na vida, limito-me a apoiar-te, a estimular-te e a ajudar-te sem que me peças.
Não posso traçar-te limites dentro dos quais deves atuar, mas posso oferecer-te o espaço necessário para cresceres.
Não posso evitar o teu sofrimento quando alguma mágoa te parte o coração, mas posso chorar contigo e recolher os pedaços para armá-los novamente.
Não posso decidir quem foste nem quem deverás ser, somente posso amar-te como és e ser teu amigo.
Todos os dias penso nos meus amigos e amigas; não estás acima, nem abaixo nem no meio, não encabeças nem concluís a lista. Não és o número um nem o número final.
E tão pouco tenho a pretensão de ser o primeiro, o segundo ou o terceiro da tua lista. Basta que me queiras como amigo.
Dormir feliz. Emanar vibrações de amor. Saber que estamos aqui de passagem. Melhorar as relações. Aproveitar as oportunidades. Escutar o coração. Acreditar na vida.
Obrigado por seres meu amigo.” (Jorge Luís Borges, Poema aos Amigos)
Barrinha MaynaBaby

quinta-feira, 26 de maio de 2011

A Excêntrica Família de Antônia

Assisti, pela enésima vez, ao filme "A excêntrica família de Antônia". Cada vez um encantamento novo - um filme fantástico, que trata de temas importantes, entre os quais a passagem do tempo, "que não cura as feridas, mas alivia a dor e embassa a memória", a celebração da vida e a generosidade e a tolerância humanas - ao voltar à sua cidade natal - um vilarejo holandês -, com sua filha Danielle, Antônia vai constituindo lenta e generosamente sua "família", vai acolhendo com amor e simplicidade habitantes inusitados do vilarejo: uma mulher que uiva para a lua, um casal de deficientes que encontra o amor de forma rara e inesperada, um filósofo pessimista, uma mulher que não para de engravidar, uma filha lésbica e uma neta com altas habilidades. O filme começa com Antônia do leito de morte e acompanha, por meio de flashback, seus últimos cinquenta anos a partir do fim da Segunda Guerra Mundial.

Escrito e dirigido pela diretora holandesa Marleen Gorrris, o filme (de 1995) é uma comédia dramática. Recebeu excelentes críticas e ganhou, em 1996, o Oscar de melhor filme estrangeiro. É uma verdadeira pintura - tem cenas deslumbrantes e enternecedoras, mas é também leve e divertido. Fica clara a forte influência do universo de Gabriel Garcia Marques - o realismo mágico - que dá o tom à saga de uma mulher espetacular: generosa, acolhedora, amável, mas independente e de personalidade forte. A fotografia e a trilha sonora são um deleite à parte.

O filme traz quatro gerações da família desta mulher incrível e aborda com sensibilidade um fato inescapável: a vida envolve perdas e ganhos, e é costurada por vários começos e vários fins - não é, portanto, conclusiva, e cada capítulo é uma parte dessa fantástica teia que é o existir - tudo isso faz parte de nossa história, mas como diz Antônia, "a vida quer viver" e é esse desejo de viver em plenitude que se ganha quando o filme termina e ficamos ainda com os olhos vidrados na tela, revisitando nossa própria existência. Um filme de rara beleza, vale a pena conferir.
Barrinha MaynaBaby

quarta-feira, 25 de maio de 2011

A Bacia de Jaboticabas

"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. (...) Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão-somente andar ao lado do que é justo. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo. O essencial faz a vida valer a pena." (Rubem Alves)

Queria que esse fosse o primeiro texto a ser publicado. Penso muito no que ele inspira - a necessidade de dar valor ao que de fato importa, de não perder tempo com futilidades, de fazer da vida uma experiência radiosa. É um texto que trata, com simplicidade e delicadeza, do ser humano na sua essência e na manifestação de sua humanidade como forma de legitimar o seu estar no mundo.
Barrinha MaynaBaby