"Viver e não ter a vergonha de ser feliz; cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz". A música de Gonzaguinha para alguns já virou lugar comum, talvez por sua repetição, pela citação exaustiva que as pessoas fazem dela para se referirem a essa coisa espetacular que é a existência humana.
Sobre a capacidade de aprender lembro Guimarães Rosa que disse: " O senhor mire e veja: o mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam - verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra de montão". Paralelamente a isso, Paulo Freire afirma: "O homem é o único animal capaz de transformar vida em existência". O que se coaduna com a perspectiva de Vítor da Fonseca, quando este fala que "o homem só chegou ao nível de evolução em que está por causa do processo de comunicação e interação", endossando Vigotski, que teorizava: "na ausência do outro do homem não se constroi homem". Ou seja: a aprendizagem, mediante a troca entre os pares, faz com que os sujeitos sejam ao mesmo tempo singular e plural e estejam todo o tempo se reinventando.
Mas será que em meio a todo o aprendizado acumulado ao longo de nossas experiências sócio-filo-ontogenéticas conseguimos aprender a perder a vergonha de ser feliz? Será que, de verdade, entendemos, como diria Guimarães Rosa, que o "real e válido na árvore (=na vida) é a reta que vai para cima", ou seja, que nos conduz para algo maior, para além de nós mesmos?
É certo que todos temos arestas a serem aparadas em nossas vidas. Temos dores - físicas e emocionais; vivemos conflitos - com nós mesmos e com os outros, como seres de relação que somos; criamos expectativas e nos frustramos; passamos por crises - financeiras e existenciais; desejamos mais e melhor, temos momentos de angústias, de tristeza. Essas coisas fazem parte da vida e - pasmem! - de uma vida feliz também. Não há problemas em ter conflitos ou frustrações, não há grandes problemas em ter momentos de introspecção ou mesmo de tristeza e de dor. A grande questão é: como passamos por esses momentos, por essas situações; é o modo como passamos por eles que vai fazer toda a diferença e permitir um aprendizado maior e uma vida menos rasa e estreita, ou mesmo ampla e profunda, marcada por grandes e significativas conquistas, enriquecida por aspectos fundamentais: tranquilidade, serenidade, leveza, encantamento.
Será essa uma visão romântica? É poesia demais? E então me pergunto: mas por que mesmo haveria minha vida de ter poesia de menos? Lembro dos Titãs, e seu olhar superesclarecido da vida:
"A gente quer inteiro e não pela metade" - Pronto. É isso. Os Titãs mataram a charada: não se quer uma vida pela metade, uma quase felicidade, um quase amor, uma quase relação, uma quase existência. A gente deve querer sempre mais. Não exatamente coisas palpáveis, objetos da sedução publicitária, não necessariamente os artigos da pós-modernidade, nem mesmo os produtos do universo pequeno-burguês. Mas sim aquilo que nos eleva a alma.
O que se deve ter é uma vida por inteiro - com todas as implicações que isso possa trazer. Algo intenso, que transborde nossa verdade interior, algo superiormente interessante, que faça nossa alma se dilatar, expandir-se em percepções, sensações, sentimentos, em vida latente, pulsante, de verdade, integral, inteira.
Será essa uma visão romântica? É poesia demais? E então me pergunto: mas por que mesmo haveria minha vida de ter poesia de menos? Lembro dos Titãs, e seu olhar superesclarecido da vida:
COMIDA (Arnaldo Antunes / Marcelo Fromer / Sérgio britto)
Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de quê?
Você tem fome de quê?
Comida é pasto!
Você tem sede de quê?
Você tem fome de quê?
A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...
A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida
Como a vida quer...
A gente quer bebida
Diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida
Como a vida quer...
A gente não quer só comer
A gente quer comer
E quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer
Pra aliviar a dor...
A gente quer comer
E quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer
Pra aliviar a dor...
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer dinheiro
E felicidade
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer inteiro
E não pela metade...
Só dinheiro
A gente quer dinheiro
E felicidade
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer inteiro
E não pela metade...
Diversão e arte
Para qualquer parte
Diversão, balé
Como a vida quer
Desejo, necessidade, vontade
Necessidade, desejo
Necessidade, vontade
Para qualquer parte
Diversão, balé
Como a vida quer
Desejo, necessidade, vontade
Necessidade, desejo
Necessidade, vontade
"A gente quer inteiro e não pela metade" - Pronto. É isso. Os Titãs mataram a charada: não se quer uma vida pela metade, uma quase felicidade, um quase amor, uma quase relação, uma quase existência. A gente deve querer sempre mais. Não exatamente coisas palpáveis, objetos da sedução publicitária, não necessariamente os artigos da pós-modernidade, nem mesmo os produtos do universo pequeno-burguês. Mas sim aquilo que nos eleva a alma.
O que se deve ter é uma vida por inteiro - com todas as implicações que isso possa trazer. Algo intenso, que transborde nossa verdade interior, algo superiormente interessante, que faça nossa alma se dilatar, expandir-se em percepções, sensações, sentimentos, em vida latente, pulsante, de verdade, integral, inteira.
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