segunda-feira, 4 de julho de 2011

Nas teias da leitura

Li  "O Escaravelho do Diabo" pela primeira vez quando estava na 8ª série (hoje 9º ano). Tinha 13 anos e já era uma leitora voraz. E lia de tudo, desde os livros solicitados no programa da escola até os clássicos e os livros que não eram necessariamente apropriados à minha faixa etária. Lembro que nessa época li "A Ilha", um livro-reportagem, escrito por Fernando Morais e publicado em 1976, indicado por um professor de inglês, queridíssimo, mas uma figura muito interessante - peculiar. O livro aborda Cuba pós-revolução sobre vários aspectos e se tornou um ícone da esquerda brasileira. Na época, eu era uma garotinha, mas a leitura foi importante para que eu começasse a entender algumas questões que estávamos vivendo nos idos de 1984. Li também quase toda a obra de Nelson Rodrigues por indicação de um professor de matemática que, curiosamente - ele não era de humanas, como era de se esperar - foi o grande responsável por me fazer me apaixonar de modo irremediável pelo mundo da leitura e quem me iniciou na minha odisséia rumo à leitura do mundo.

Assim, tinha um gosto bastante eclético. Mas confesso uma predileção por livro de mistério e suspense. E como preconceito é algo destruidor e abjeto, busco não manifestar a menor ideia preconcebida acerca de nada. É assim com a literatura também. Leio o que gosto, não o que dizem que é bom do ponto de vista estético, leio o que me dá prazer e me provoca um ir além de mim. Gosto, por exemplo, dos livros de Agatha Christie. Têm para mim a função de me distrair, de me esvaziar a mente, me tira de minha realidade referencial, me faz tembém exercitar certas funções cognitivas, porque me entretenho a solucionar os crimes, de acordo com as pistas deixadas na subjacência do discurso, e analiso também a coerência do texto, se de fato faz sentido o percurso cotextual, além do contextual. Mas sobretudo me divirto com as peripécias de Poirot e com seu estilo garboso e quase cômico, sem falar na adorável Miss Marple ou no coronel Hastings, fiel companheiro de Poirot, puro e ingênuo, de tão manifesta bondade que se torna uma figura encantadora, sem contar que é uma delícia o diálogo entre os dois.

Foi assim com "O Escaravelho do Diabo". O livro foi escrito por Lúcia Machado de Almeida, autora mineira, que estudou Literatura, História da Arte, Piano e Canto. É jornalista e escritora, sobretudo de livros infanto-juvenis, tendo recebido vários prêmios com suas publicações. Lúcia faz parte de uma família de escritores: é irmã de Paulo, Aníbal e Carolina Machado, todos escritores; tia de Maria Clara Machado, autora de livros infantis e cunhada do poeta Guilherme de Almeida.

O livro narra uma série de assassinatos que ocorrem em Vista Alegre, uma cidade linda e tranquila, até então extremamente pacata. Hugo, um rapaz sardento e simpático, de 18 anos, dono de uma vasta cabeleira avermelhada, recebe pela manhã um pacote do correio. Imediatamente, o rapaz supõe tratar-se de um presente de uma admiradora. No entanto, ao abrir o embrulho, tem um susto: dentro da caixa está um besouro negro com uma espécie de chifre na testa - era um escaravelho. Alberto, seu irmão, um dedicado aluno de medicina, diz para que ele jogue o inseto fora, mas Hugo quer saber quem o enviou e guarda o besouro.. Dias depois, ao chegar em casa, Alberto vê que seu irmão ainda está no quarto estranhamente trancado por dentro. Bate à porta de modo insistente, mas não obtem resposta. Uma aflição começa a tomar conta dele e, num ímpeto, arromba a porta. A cena que vê o deixa chocado: Hugo deitado na cama com uma espada cravada no peito e uma lividez assombrada no rosto. Seu irmão estava morto. Alberto fica abalado pela tristeza de seu irmão morto e inconformado com o fato de "Foguinho", como era chamado Hugo, ser tão querido e amável, de modo que não tinha inimigo algum. Quem, então, poderia querer fazer uma coisa dessas com ele? Assim começa a busca de Alberto para encontrar o assassino do irmão. A grande questão é que este não é um assassinato isolado, mas apenas o primeiro de muitos, todos ocorridos na cidade, envolvendo pessoas ruivas, que sempre recebiam, como um aviso macabro, um escaravelho pelo correio.

É uma história simples, escrita para adolescentes. Mas, embora eu já a tenha lido aos 13 anos, quando eu estava escolhendo alguns livros para meu filho ler durante as férias, dei com um exemplar de "O Escaravelho do Diabo" em minha biblioteca. Sentei para folheá-lo, é claro que fiquei perdida em minhas memórias adolescentes, deliciada com essa viagem no tempo, e me peguei envolvida novamente pela narrativa gostosa de Lúcia Machado de Almeida. Fui para a rede (não tem nada mais gostoso do que ler na rede) e passei a tarde presa pela caçada de Alberto ao assassino de Foguinho. Eita tarde gostosa! Recomendo uma tarde assim a todos.
Barrinha MaynaBaby

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