segunda-feira, 27 de junho de 2011

Amigo é coisa pra se guardar no lado esquerdo do peito

Passei algum tempo distante do ambiente virtual, dedicada que estava aos festejos juninos e a acompanhar uma nova amiga, que veio do Acre para cá, aproveitar o feriado de São João. Fui a diversos locais - os mais pitorescos e representativos de nossa cidade e também os mais animados - foi uma maratona deliciosa, embalada por muito forró pé-de-serra. Eu a conheci por intermédio de um amigo comum. Passamos oito dias juntas e nos tornamos muito próximas. Isso me fez pensar em como é importante ampliar nossa rede de afetos e nos permitir desnudar, deixar que o outro nos encontre, nos conheça e nos olhe nos olhos, de modo que possamos criar laços de ternura - isso nos preenche, nos torna maiores. Conversamos muito e, para além dos momentos de descontração, nós pudemos checar nossas afinidades e nos enredar nelas, além de perceber nossas diferenças, e crescer com elas, já que estas possibilitam um alheamento de nós e, consequentemente, nos fazem vislumbrar a vida pelo olhar singular de outra pessoa, alcançando outros ângulos possíveis de visão. É incomensurável o valor de uma amizade. Não somos ilhas, somos seres de relação - seres altamente complexos, prenhes de idiossincrasias, mas seres que precisam com urgência de outros seres, seus semelhantes - precisamos de toque, de olho no olho, de gestos, do som da voz, de sorrisos e lágrimas compatilhados, de palavras, de sentimentos externados. Isso nos estrutura, nos acolhe, nos dá guarida. Nada melhor do que ter amigos - para fazer qualquer coisa juntos, ou mesmo nada - só sentindo a presença que reconforta e o silêncio que compreende. Podemos nos entender só pelo olhar: o olhar que concorda, que adere, que consente, que nega, que repreende, que nos coloca no devido lugar, que se faz cúmplice, que diz "estou aqui, conte comigo".

Fui, em decorrência do ensejo dessa reflexão, procurar o que outros disseram a respeito de amizade - queria que outras vozes encorpassem o que eu penso sobre ter amigos - e me deparei com uma lista impressionante de pensamentos os mais diversos. Retirei alguns para compartilhar com todos.

O poeta Sêneca, um dos maiores escritores do Império Romano, nascido em 4 a.C., disse: "se quer ser amado, ame". Pensei na hora - que coisa tão simples e tão fantástica - é isso: é importante cuidar do outro, fazer o outro feliz, amar sem preocupação com o troco - em consequência disso, é amor que vamos receber. Quando somos delicados e tratamos as demais pessoas com amabilidades, recebemos o mesmo tratamento. Não há mistério nisso. Aristóteles, filósofo grego, já afirmava: "alguns pensam que para se ser amigo basta querê-lo, como se para se estar são bastasse desejar a saúde". Ou seja: é preciso cuidar. Por que então fazer diferente? Que sentido há nisso? Por que não nos ocupamos em construir boas amizades? François de La Rochefoucauld (1613 - 1680), príncipe de Marillac, disse, certa vez, "um verdadeiro amigo é o mais precioso dos bens e, igualmente de todos, aquele que menos nos preocupamos em adquirir". É como se achássemos que somos autossuficientes, não precisamos de ninguém, muitas vezes erguemos em torno de nós um fosso que nos dá uma distância regular de outras pessoas, num ledo engano de estarmos seguros, a salvo dos outros - mas não de nós mesmos. Tristeza e solidão, além de uma existência rasa e estreita - essa é a recompensa por agir assim.  Às vezes, é o medo de exposição, como se pudéssemos nos esconder todo o tempo ou como se o fato de estar escondido nos desse algo de bom. Como diz Joseph Newton, "as pessoas são solitárias porque constroem paredes ao invés de pontes". Ou medo de se magoar, de que a amizade não seja verdadeira. No entanto, há um provérbio chinês que diz: "se um amigo deixa de o ser, é porque nunca o foi verdadeiramente". Então, não há ex-amigo. Amigo de verdade está sempre lá - não importa distância, não importam as diferenças, ele está sempre a nos favorecer com sua amizade e com ele podemos contar. Aliás, como já sugeri, as diferenças nos ajudam a nos entender também; quanto a isso, George Herbert (1593 - 1633), poeta e sacerdote galês, disse: "o melhor espelho é um velho amigo". Mas, sem dúvida, é acolhedor reconhecer nossas afinidades,  pensar que temos par nesse mundo, que nossa voz encontra eco, que nossos pensamentos são compartilhados por outros. Goethe, escritor alemão de fins do século XVIII, afirmou que "conhecer alguém aqui e ali, que pensa e sente como nós e que, embora distante, está perto em espírito, eis o que faz da Terra um jardim habitado". É isso: a amizade dá colorido à vida, faz com que nossa existência seja mais rica e mais florida, nos dá viço e aroma. Portanto, como diz um provérbio nigeriano: "segure um verdadeiro amigo com ambas as mãos". Não permita que ele se vá, não o desampare, não deixe que a oportunidade de tê-lo junto a si desapareça. Cuide dele e dê a ele o que ele precisa: dê seu carinho, sua palavra de conforto, sua confiança - tão absolutamente fundamental para o estabelecimento maduro e concreto das relações humanas. Como na música de Alcino Alves e Rossi, Semente do Amor: "é como a flor, / de água e ar,  / luz e calor  / o amor precisa para viver, / de emoção e de alegria / e tem que regar todo dia".

No entanto, é preciso desejo: de ser e de ter amigos, como nos adverte muito sabiamente Karol Wojtyla (Papa João Paulo II): "o amor, no seu conjunto, não se reduz à emoção nem ao sentimento, que não são senão alguns dos seus componentes. Um elemento mais profundo e, de longe, o mais essencial de todos, é a vontade, que tem o papel de modelar o amor no homem. Na amizade - ao contrário do que sucede na simpatia - a participação da vontade é decisiva".

Há uma música linda, de Mílton Nascimento e Fernando Brant, que representa bem o que é a amizade - "Canção da América". Quero oferecer como presente a todos os meus queridíssimos amigos, aos que já tenho e aos que desejo que a vida ainda me permita cultivar.

Beijo no coração de todos.



CANÇÃO DA AMÉRICA
(Milton Nascimento e Fernando Brant)

Amigo é coisa para se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração
Assim falava a canção que na América ouvi
Mas quem cantava chorou
Ao ver o seu amigo partir
Mas quem ficou, no pensamento voou
Com seu canto que o outro lembrou
E quem voou, no pensamento ficou
Com a lembrança que o outro cantou
Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito
Mesmo que o tempo e a distância digam "não"
Mesmo esquecendo a canção
O que importa é ouvir
A voz que vem do coração
Pois seja o que vier, venha o que vier
Qualquer dia, amigo, eu volto
A te encontrar
Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar.






Barrinha MaynaBaby

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Um poeta além de seu tempo

"Não é apenas a indolência que faz as relações humanas se repetirem de modo tão monótono e sem renovação de caso a caso, é a timidez diante de qualquer experiência nova, imprevista, para a qual não nos consideramos amadurecidos. Mas apenas quem está pronto para tudo, quem não exclui nada, nem mesmo o mais enigmático, viverá a relação com outra pessoa como algo vivo e irá até o fundo de sua própria existência."    (Rainer Maria Rilke - Cartas a um jovem poeta)

Rilke é um dos mais importantes poetas de língua alemã. Nascido em Praga, em 1875, Rainer Maria Rilke tem uma obra consistente e encantadora, preenchida por uma originalidade marcada justamente pela forma inesperada de tratar as imagens nela constituídas. Por meio dela, o leitor é levado a realizar uma reflexão profunda das questões ensejadas e com as quais também se defronta na sua realidade referencial.

O trecho citado faz parte de uma de suas obras mais conhecidas e importantes, Cartas a um jovem poeta, em que Rilke analisa o fazer literário, por meio de "conversas" com um jovem poeta que lhe pede orientação, o senhor Kappos. Mas não é sobre a poesia apenas que Rilke fala, é sobre toda a vida e sobre as relações que se estabelecem nela - nada mais adequado, haja vista que a poesia retira sua matéria da própria vida, é de vida, na sua efervecência, que a poesia se alimenta. Nesse trecho, Rilke nos convoca a pensar o quanto muitas vezes nós recalcamos nossas possibilidades de sermos mais e melhores em nossas relações, o quanto nos eximimos em torná-las menos rasas e menos estreitas. E esse questionamento é característico em Rilke, sobretudo porque ele sempre foi, desde a infância, muito amigo da solidão e com uma existência repleta de conflitos emocionais. Com um estilo preciso, o poeta se utiliza de imagens simbólicas para fazer suas reflexões, trabalhando com os limites sensorias da existência, muitas vezes da melancolia, a fim de, por meio da poesia, traduzir o fundamento da busca do ser.

Tamanho foi o valor de sua obra e importância para a literatura alemã, que o grande escritor Robert Misil, autor de "O homem sem qualidades", considerado  o melhor romance alemão,  um dos grandes prosadores do século XX, ao lado de Poust, Joyce e Kafka,  disse na homenagem feita quinze dias após a morte de Rilke, em 1926, vítima de Leucemia:

"Este grande poeta não fez outra coisa senão levar a poesia alemã, pela primeira vez, à sua consumação total."

Hora severa (Das Buch der Bilder)
Quem neste instante chora em algum lugar do mundo,
sem motivo chora no mundo,
me chora.
Quem neste instante ri em algum lugar na noite,
sem motivo ri na noite,
se ri de mim.
Quem neste instante caminha em algum lugar no mundo,
sem motivo caminha no mundo,
caminha até mim.
Quem neste instante morre em algum lugar no mundo,
sem motivo morre no mundo,
me observa.


Barrinha MaynaBaby

sábado, 18 de junho de 2011

À Espera

Noite de chuva. A cidade quase toda adormecida. Só a luz naquela janela do terceiro andar do edifício em frente teimava em se manter acesa. Uma mulher de cabelos escuros, compridos, um pouco revoltos, aparecia vez por outra na janela, espiando a rua. Qualquer barulho a fazia correr à janela, num acesso de ansiedade que me deixava consternada.

Eu estava na varanda, deitada na rede, querendo descansar do dia corrido que tive naquele escritório que não me deixava respirar. Tinha tomado um banho morno, estava vestida num pijama confortável e fui me embalar olhando a rua quieta, uma paisagem tão diferente do que era à luz do dia. Queria repousar as retinas naquela mansidão. Ver a rua sem gente me fazia percebê-la maior e me dava a sensação de que ela pertencia só a mim.

Estava me perdendo em meus pensamentos, quando dei por essa cena que se repetia em quadros. Era sempre o mesmo movimento angustiado. Às vezes nem ruído havia, mas o sobressalto era o mesmo. O mesmo gesto tenso, nervoso, as mãos unidas acima do estômago, depois retorcidas, o olhar parado, pregado no fim da rua, longe, lá no cruzamento, como que esperando algo acontecer.

O que se passava na mente daquela mulher? Quem ou o que ela estaria esperando? O marido que se perdera em algum bar? Estaria ele nos braços de outra? Não, de jeito algum, pensaria ela. Havia uma explicação para tamanha demora. E a explicação a afligia. Não havia explicação boa para alguém não estar onde a esperam numa hora dessas. Há uma explicação. Um problema no carro. As pessoas passam pelas situações mais insólitas por causa de uma pane no carro. E nessas horas, não há telefone perto, os lugares são sempre os mais esquisitos e é claro que a bateria do celular descarregou. Ou então não. Meu Deus! Pode ser pior! Um acidente! Seria melhor ligar para os hospitais? Não, melhor não fazer isso ainda. É melhor esperar mais um pouco. O celular está desligado. Essas baterias não duram mais nada. Ou então está fora de área. Agora é assim – alguém já viu celular sempre com cobertura de área? É uma lenda isso.

Um carro entra na rua. Um pulo da cadeira. Assisto ao pulo da minha rede – quase pulo também. Não é ele, são uns garotos voltando de algum lugar. Embora tenham cortado o meu silêncio, não fico brava com eles. Na verdade, abro um sorriso e os olho com uma compreensão enternecida. São todos tão alegres, tanto quanto é possível na adolescência, sem preocupação com nada. Para eles, a vida é uma festa.

E ele que não chega? Acho que é ele, e é marido. Poderia ser filho ou filha, mas se fosse ela não sairia da janela. Filho faz a gente não desgrudar da janela, a não ser para ir atrás percorrendo as ruas da cidade. Se fosse filho não só os hospitais já teriam sido procurados, como a polícia teria sido acionada. Não era filho. Era marido. Ou namorado, ou amante...

Havia aflição, mas também havia outro sentimento perceptível, havia desprezo e mágoa, alternadamente. Algo do tipo “ah, deixa pra lá, ele não me merece”, e de volta pra sala, furiosa. Mas depois outra vez o sobressalto, tornando claro o desejo de que ele enfim chegue.

Engraçado, ela mora em frente à minha casa e eu nunca havia reparado nela. Agora quase me sinto íntima, preocupada com sua aflição, com uma raiva danada desse homem que não chega para acabar com o martírio dessa pobre mulher. Estou completamente envolvida com a situação.  É uma mulher bonita, não havia ainda percebido, mas agora olhando mais detidamente, me impressionei com uma beleza retraída, uma beleza que não aspira se mostrar, escondida por trás daqueles olhos tristes e distantes, fixos no fim da rua, mas capazes de ir além, como se corressem como humildes formiguinhas atrás desse homem que não chega.

Uma luz vinda do cruzamento ilumina o ponto de referência da agonia dessa mulher que não é mais uma estranha para mim. Somos companheiras já, ficamos unidas na angústia da espera. A luz se aproxima, e junto com ela um ronco suave de um motor, que diminui a velocidade à medida que se aproxima do prédio em frente à minha casa. A mulher, que havia dado um pulo ao ouvir o barulho e estava na janela, reconheceu de imediato o que tanto esperava e, num gesto rápido, sai da janela apagando a luz. Tudo aconteceu numa velocidade tamanha, que parecia ter sido ensaiada muitas vezes. Uma sincronia perfeita de movimentos. Apesar da rapidez e de estar alternando meu olhar desperto, distraído de mim mesma e absorto naquela cena alheia a mim, pude perceber no semblante da minha companheira de espera um lampejo de sentimentos vários: havia alívio clarificado no seu olhar, desprezo manifesto no endurecimento dos lábios, tristeza presa entre as linhas de expressão, e uma espécie de renúncia de si mesma, uma resignação revelada na sua fuga da sala para outro cômodo da casa, um quarto talvez, onde possivelmente ela iria esconder o desespero, a frustração, o desamor, a alma ressequida, os olhos sombrios, enevoados pelas lágrimas que enfim irromperam naquele rosto bonito e sofrido de mulher.
Barrinha MaynaBaby

quarta-feira, 15 de junho de 2011

O descortinar de um novo horizonte

Faço hoje 40 anos. É claro que é uma data importante, e justamente por isso me entretive em reler as páginas de minhas memórias, refletindo sobre mim mesma, os ganhos e perdas que tive, o quanto pude aprender, o quanto ainda preciso, enfim, um balanço.

Nesse movimento de busca de mim mesma, não pude deixar de pensar em Victor Hugo, que nos anuncia de modo tão generoso: "cada idade tem o seu prazer e a sua dor". Nas dores, não penso muito; são necessárias, têm o seu papel, mas não preciso ficar agarradas a elas o tempo todo - me desapego fácil. Aproveito o sabor, o cheiro, a sensação, o prazer de cada momento vivido.

Como me sinto aos 40? Feliz. Não completa, porque a incompletude é a grande dádiva que recebemos da vida. Como disse Guimarães Rosa: "o senhor mire e veja, o mais importante do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, mas que elas vão sempre mudando". Estamos sempre por nos refazer. E essa certeza de que não estou pronta e ainda posso crescer como pessoa me permite um desdobramento indescritível.

A vida é um pulsar. Um movimento constante de contração e expansão. Contraídos, respeitamos nossos limites, nos estruturamos; expandidos, nos lançamos para a vida, nos aventuramos, e com isso crescemos. É algo extraordinariamente intenso.

Assim, para mim, fazer aniversário é mesmo completar primaveras: época de renovação, de desabrochar para uma nova instância do real, com todas as suas possibilidades. Sou o depositário de minhas experiências, a soma de todos com quem pude conviver - ao ver, ouvir, falar, tocar, sentir, cheirar, ler, compreender, amar. Sou muitas em uma só - sou ao mesmo tempo singular e plural. E o ensejo de um novo ano abre um portal para uma outra dimensão da minha existência, me permitindo a transformação necessária que mantém a latência desse pulsar.

O que espero de mim? Ser toda em cada coisa que fizer, como me aconselha o meu querido Pessoa.

Beijo no coração de todos. E "xerinho" do bom.
Barrinha MaynaBaby

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Passei três dias sem visitar esta dimensão, que para mim é muito cara. Poder transitar esse mundo e compartilhar meus sentimentos, um pouco do meu mundo interior, pra mim, é libertador. É maravilhoso poder fazer uso desse aspecto tão humano que é a interação via linguagem articulada. Volto, pois, a trasladar por ela hoje.

Hoje é um dia interessante  - é dia de Santo Antônio, santo casamenteiro - aquele com o qual se apegam as moças casadoiras (meu Deus, pareço ter quantos anos falando assim?! Nem sei se há ainda moças casadoiras!), mas enfim, moças que desejam ardentemente que um príncipe as carregue em seu cavalo branco para os lugares mais fabulosos e faça de suas vidas um conto de fadas. Na verdade, acho que esse sonho é legítimo - é algo que, como todos os sonhos, permite um brilho no olhar, um encantamento pela vida. - isso traz poesia à nossa existência. Por associação a este santo, talvez, ontem, no Brasil, foi comemorado o dia dos namorados - um dia clássico para sentir um cheiro gostoso e doce de romance no ar. Mas dia também para as tais moças casadoiras usarem e abusarem das adivinhações, em busca de saber se o tal príncipe aparecerá. E pensando nesse príncipe, em como ele seria, lembrei de uma música de Xico Bizerra, um xote supergostoso (já que estamos em clima de São João e no dia de um santo do ciclo junino), que tem como eu-lírico um homem apaixonado, assim como as mulheres sonham, dizendo tudo aquilo que a gente quer ouvir - são imagens lindas, que nos fazem suspirar. Deliciemo-nos com ela, então.

Se tu quiser
(Xico Bizerra)

Se tu quiser
Eu invento o vento
pra ventar o amor
Uma chuva bem chuvida
pra chover pé de fulô
pra tu ficar cheirosa
e vir dançar mais eu
Se tu quiser
poemo um poema
bem cheio de rima
acendo a estrela
mais bonita lá de cima
faço tudo o que puder
pra tu ficar mais eu
Se tu quiser
eu crio um sentimento
pra gente se amar
descubro um jeito novo
de te abraçar
te beijo com um beijo
que ninguém nunca beijou
Se tu quiser
basta me dizer
que eu irei correndo
é só tu me avisar
que tu tá me querendo
que o mundo vai saber
o que é um grande amor.





Barrinha MaynaBaby

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O Guardador de Rebanhos


O meu olhar é nítido como um girassol
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direira e para a esquerda
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E sei dar por isso muito bem.
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança, se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O mundo não se faz para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...

Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos", 8-3-1914.


Alberto Caeiro é um dos heterônimos de Fernando Pessoa. Na biografia que Pessoa criou para Caeiro, este só tem o curso primário. Mas seu modo de expressão revela uma maturidade intelectual superior. Alberto Caeiro é o mais objetivo de todos os 127 heterônimos de Pessoa.

Caeiro é um poeta ligado à natureza, como ele diz: “um guardador de rebanhos”, considerando importante ver a realidade sempre de forma objetiva e natural.  É avesso ao pensamento filosófico, declarando-se um antimetafísico, uma vez que, segundo o poeta, quando pensamos entramos num mundo obscuro e incerto, Caeiro diz textualmente “pensar é estar doente dos olhos”. Para o poeta, a única realidade é a sensação, o conhecimento sensorial – “pensar é não compreender”.

Neste texto, Caeiro fala da abrangência do olhar – em periscópio = olhar em todas as direções, oportunizada pela figura do girassol. O girassol é uma flor nítida, com pétalas destacadas, com cores fortes, intensas, definidas, que sempre se volta para a fonte de luz.

Algumas imagens são particularmentes bonitas nesse poema:
“Sei ter o pasmo essencial / Que tem uma criança, se, ao nascer, / Reparasse que nascera deveras...” – o pasmo essencial é algo indescritível – é a capacidade que temos de nos surpreender, de nos maravilhar diante do novo, de nos encantar. O que se complementa quando o poeta diz: “Sinto-me nascido a cada momento / Para a eterna novidade do mundo...”. É interessante que, embora se declare antimetafísico, seja avesso ao pensar, essa capacidade de se surpreender com o novo, de estar nascido para a eterna novidade do mundo, é típico do pensamento filosófico. No entanto, a proposta de Caeiro é que isso se dê não mentalmente, mas no plano sensorial. É, portanto, o poeta das sensações; a sua poesia sensacionista assenta na substituição do pensamento pela sensação: "Sou um guardador de rebanhos / O rebanho é os meus pensamentos / E os meus pensamentos são todos sensações").

Alberto Caeiro é o grande mestre, em torno do qual se determinam todos os outros heterônimos da obra de Pessoa.

Biografia criada por Pessoa para Alberto Caeiro:
Nasceu em 16 de Abril de 1889, em Lisboa. Órfão de pai e mãe, não exerceu qualquer profissão e estudou apenas até a 4º classe. É louro, de olhos azuis, com estatura média, pouco mais baixo que Ricardo reis (heterônimo pessoano). Viveu grande parte da sua vida pobre e frágil no Ribatejo, na quinta da sua tia-avó idosa, e aí escreveu O Guardador de Rebanhos e depois O Pastor Amoroso. No Ribatejo, encontra-se com Álvaro de Campos (outro heterônimo). Voltou no final da sua curta vida para Lisboa, onde escreveu Os Poemas Inconjuntos, antes de morrer de tuberculose, em 1915, quando contava apenas vinte e seis anos, de tuberculose. [wikipedia.]




Barrinha MaynaBaby

quarta-feira, 8 de junho de 2011

JUSTO A MIM ME COUBE SER EU?

Toda vez que minha avó paterna me dizia que o molde em que fui feita fora quebrado quando nasci, eu achava que ela estava me elogiando. Acreditava que somente eu era “única” no mundo. Aos poucos, fui percebendo meu engano.
Essa exclusividade – recebida com o meu nascimento – não me foi dada assim de mão beijada. Nem veio pronta, nem tinha manual.
Cedo percebi que jamais teria sossego e que teria muito trabalho. Típico presente de grego, uma armadilha. Encontrei eco para o meu espanto nas palavras da Mafalda, a famosa personagem de Quino, o cartunista argentino, no momento em que ela diz: “Justo a mim me couber ser eu!”. Ser quem a gente pode ser é quase uma desolação. Quem eu sou e deverei ser? Minha individualidade é um mistério.
Quando percebo que um gesto qualquer vai afetar o meu destino, sinto medo, sinto angústia, suo frio, tenho vertigens, adoeço. Ai, a tentação de pegar carona na escolha dos outros ou no estilo de vida deles é grande, mas minha alma grita que não vai dar certo e me lembra que meu molde foi quebrado, que ele é exclusivo.
Levei muito tempo para entender que minha exclusividade não está simplesmente em mim. Ela está sempre lançada adiante de mim como um desafio, como um destino a que tenho de chegar, como uma história que tem que ser vivida. Minha exclusividade – eu mesma – virá apenas quando eu puder afirmar que a história que vim realizando só eu – mais ninguém – poderia tê-la vivido.
Este é o mistério que envolve o problema de ser quem somos: autenticar nossa biografia. Avalizá-la.
Onde estou, senão no rastro da história que venho deixando atrás de mim, naquilo que vim fazendo ou dizendo? Onde estou, senão nessa biografia que realizo e atualizo a cada instante por meio das minhas decisões e do meu empenho?
Hoje não me importo mais se sou diferente dos outros, mas se faço alguma diferença neste mundo.
(Dulce Critelli)
Barrinha MaynaBaby

terça-feira, 7 de junho de 2011

Amigo

Me abrigar em teus ombros largos
Me envolver em tuas palavras caras
Me enlaçar em teu sorriso aberto
Me acolher em teu gesto amigo

Faz-me forte no conselho certo
Traz-me doce aonde tudo é amargo
Deixa em minha vida uma presença rara
De quem está pronto a me dar abrigo

E assim, como quem colhe estrela,
Pés descalços, peito aberto ao vento
Toco as mãos desse meu caro amigo

Que me alenta, me afaga, deixa-me segura
Que me entende e lê meu pensamento
E me enche a vida de ternura

Ana Paula Sobreira
Barrinha MaynaBaby

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Sim, nós temos Blues!



Segunda-feira é dia de Blues no Recife. Quem pensa que sair à noite com os amigos e ouvir música de qualidade é coisa para o fim de semana, engana-se. Segunda-feira, a partir das 22h30, a rua do Bom Jesus é palco de um movimento fantástico: o Recife Jam Sessions.

O movimento é liderado pela Recife Blues Band e convidados, acontece no bar Caravela's e é formado por Rico Bluestamonte, Rodrigo Morcego, Marcio Menezes, Fred Cp e Gustavo. Após o show dessa banda de músicos refinados, que nos encanta com seus acordes sofisticados, abre-se o espaço para que músicos diversos possam também mostrar seu trabalho.

Jam, em música popular, significa tocar de improviso. É comum, nos clubes de blues e jazz, mas também, mais recentemente, nos de rock e de choro, que após a apresentação principal os músicos presentes sejam convidados a subir no palco e tocar junto com a banda - é o que chamamos no Brasil de “dar uma canja”. Não há certeza quanto à origem do termo. Há quem diga que vem de jam, em inglês, que significa “geleia”, por associação com a mistura de ritmos que essa prática possibilita. Há também quem diga que a palavra se refere à expressão “Jazz after midnight” (formada a partir das iniciais) – “jazz após a meia-noite”, que é quando acontece a maior parte dessas sessões.

O Recife Jam Sessions faz parte de um circuito de Blues do Recife, que inclui locais como o Burburinho (Rua Tomazina - Recife Antigo), o Casa da Moeda (Rua da Moeda - Recife Antigo), o Biruta (no Pina), o Olinda Blues Style (Bar Virgulino - Olinda), em dias diversos. Ou seja: todo dia é dia de Blues. É um evento divertido e interessante. Há uma plaquinha onde os músicos se inscrevem para tocar. Assim, o local fica cheio de guitarristas, bateristas, baixistas, saxofonistas, gaitistas, cantores, enfim, bluseiros de todas as tendências, com raízes diversas.

O cenário é incrível, a música espetacular, os músicos fantásticos, as pessoas que frequentam são leves, animadas, divertidas. Como diz Rodrigo Morcego, "só coisa cristalina". Simplesmente imperdível.

Serviço:
Caravela's Cyber Café
Rua do Bom Jesus , 183 , Recife Antigo,  Recife - PE
(81) 34241952
Couvert Artístico: R$ 5,00
Couvert Músico: R$ 2,50
Barrinha MaynaBaby

domingo, 5 de junho de 2011

Irah Caldeira - A Patativa do Agreste



Fui ontem assistir ao lançamento do novo cd de Irah Caldeira "Sem Segredo". Que show lindo! Irah, essa mineira que há dez anos adotou Recife como sua cidade do coração, preenche o palco. É dona de uma voz incrível, melodiosa, que alcança notas altíssimas; tem uma elegância e uma delicadeza em suas interpretações que nos deixam com os olhos vidrados.

Adoro ouvir essa mineirinha cantar. Aonde ela vai, sempre que posso vou lá também. Acho delicioso vê-la cantar xote, xaxado, coco, baião, calango (lá das Minas Gerais), numa mistura gostosa de ritmos do caldeirão nordestino

O palco desta vez foi no Sala de Reboco (assim, no masculino, como gosta de dizer Marcos Santana, quando anuncia os artistas que lá se apresentam). A Sala de Reboco é emblemática. É um lugar pitoresco, agradável, típico reduto do forró gonzaguiano. Um dos lugares mais tradicionais do forró pé-de-serra da cena recifense.

Quem vai lá não apenas ouve música boa, com artistas maravilhosos da terra, e dança um forrozinho gostoso, como também se encanta com D. Mazé (proprietária do local, juntamente com seu filho Rinaldo Ferraz), uma linda senhora de mais de 70 anos, que dança a noite inteira – das 22h até o sol raiar – convidando a todos a se animarem e “arrastarem o pé”, “dando cheiro no cangote” de seu amor.

O cd de Irah está lindo. Um álbum bem cuidado, que traz composições de vários artistas, entre os quais Xico Bezerra, Silvério Pessoa, Alceu Valença, Aracílio Araújo, Ermano Moraes, este último autor da música de trabalho - "Sem Segredo" - que dá nome ao disco. Ritmos diversos compõem esse trabalho espetacular e que certamente será mais um grande sucesso dessa cantora de canto tão lindo que recebeu, carinhosamente, o epíteto de patativa do agreste.

Com uma banda formada por músicos de primeira grandeza, como Luisinho do Acordeon, Irah nos presenteou com uma noite fabulosa, um banho de cultura popular.

Eita, mulher arretada essa! Sucesso sempre, Patativa!

Sem Segredo
Composição : Ermano Morais

Já não dá pra viver mais desse jeito
Ai ai ai
Te amando e carregando essa dor no meu peito
Não fui que pedi pra dar o fora
Ai ai ai
Você quem quis assim
Quem me mandou embora
E agora você pede pra voltar
Dizendo que vai tudo se ajeitar
Achando que eu não passo,amor
De seu brinquedo
Ficou difícil voltar pra você
Meu coração cansou de te querer
E mesmo te amando,amor
Morre de medo
De outra vez
Cair no chão
De ser pisado e maltratado
E ser fiel como um cão
Meu coração
Não quer brincar de solidão
Apenas quer ser feliz
Tudo o que quis
Foi viver sempre ao teu lado sem segredo
Eu te amo mas voltar...
Morro de medo









Barrinha MaynaBaby

sábado, 4 de junho de 2011

Felicidade é tudo o que se quer

Por que a felicidade, muitas vezes, precisa ser uma coisa clandestina? Quando se exibe publicamente a felicidade, corre-se o risco, às vezes, de alguém dizer: “Nossa, como essa aí está feliz!”, ou: “Que felicidade toda é essa?” – como se achassem absurda “aquela felicidade toda”. “Tanto sofrimento no mundo e essa aí destratando a vida com sua felicidade! Que insensível!

Para ser sensível, solidarizar-se com a dor alheia, é preciso ser infeliz? Ampliar a tristeza do mundo? Não quebrar a corrente? Que contrassenso desejar que a humanidade sofra menos alimentando dores e tristezas!

Há pessoas que insistem em ver a vida com cores sombrias, em preto e branco, e todos os tons da escala do cinza. Eu prefiro que a minha tenha cores variadas: vibrantes e quentes, às vezes; em outras, em tons pasteis; mas sempre aproveitando o máximo da beleza do arco-íris. Poesia? Talvez. Mas... Por que não?

É preciso olhar para a vida com um olhar de generosidade. É preciso valorizar cada momento e encontrar nele a beleza, a suavidade, a ternura, a delicadeza (adoro essa palavra e tudo o que ela implica), o enlevo, o amor das coisas simples, a serenidade que traz conforto às almas.

É preciso legalizar a felicidade!
Barrinha MaynaBaby

sexta-feira, 3 de junho de 2011

DESTINO


Aconteceu. Dois olhos se tocaram na brevidade de um instante fugaz. E então o inesperado (?) aconteceu. A eletricidade provocada pelo encontro dessas retinas gerou um não sei quê de sensações, a partir das quais esses olhos não pararam mais de se procurar. Tudo tornou-se turvo e no momento seguinte límpido, clarificado pelas incertezas inquietas dos corações sobressaltados. Desde então, dúvida e certeza coexistiram na ambivalência do sentimento recém-nascido. Quem poderia asseverar a natureza do olhar? Não se sabia, e ainda assim se sabia (ou se queria saber, quem sabe?) que era real, que havia concretude, reciprocidade de sentimentos.

O desejo passou a povoar a mente e o corpo de ambos. Passou-se a sentir uma necessidade de se ver, ainda que em tímidas situações. Uma necessidade de confirmar a existência do outro, de reafirmar o que se sentia, de acalmar a desordem interior que acomete as almas dos que amam sem se revelar.

O mundo como que parava, parecia haver um universo paralelo onde ambos se encontravam apenas um na presença do outro, cercados por uma atmosfera diferente e intensa. As demais pessoas não existiam propriamente. Estavam lá, mas como não eram percebidas, não existiam de fato; perderam-se na distração de ambos.

Se sentir é estar distraído, só se apaixona quem é surpreendido em sua distração. De repente, alguma coisa chama à atenção e fatalmente vai-se alinhavando a outras pequenas coisas, situadas entre o dito e o não-dito. Depois de instalado o sentimento, uma série de reações passam a fazerem-se presentes, um aceleramento das batidas do coração, um leve rubor nas faces, um amolecimento nas pernas, uma sensação estranha no estômago. Tudo tão ruim e tão bom ao mesmo tempo, que só para sentir o acelerar do coração diante do ser amado vale a pena ter nascido. Foi assim com eles.

Primeiro, com medo de se denunciarem, passaram a exercitar o faz-de-conta da dissimulação. Entretiveram-se em fingir que não sentiam o que de fato sentiam, que não queriam o que de fato queriam. Paradoxalmente, os olhares procuravam-se e esquivavam-se ao mesmo tempo. Mostravam-se displicentes um em relação ao outro. Mas eram péssimos atores.

Depois, começaram a desejar revelar-se mudamente um ao outro. Era uma necessidade fazer o outro assegurar-se do real sentimento. Queriam a todo custo dizer sem palavras o quanto se gostavam, o quanto precisavam um do outro. Muito desejo e muito medo na insustentável leveza da paixão.

Bastou um sinal para que suas mãos se entrelaçassem, para que se afagassem ternamente, para que suas bocas se calassem uma na outra. Nenhuma palavra precisou ser dita.

De repente, tudo ficou como deveria ser, como não podia deixar de ser, como já era antes de acontecer. E o que se viveu depois foi tão intenso e profundo, que foi suficiente para alimentá-los para o resto de suas vidas. Não se sabe se permaneceram juntos para sempre; não era o conto de fadas que se desejava. Sabe-se tão somente que se sentiram plenos, foram invadidos pela vida, preenchidos na alma, e nunca mais foram os mesmos. Uma nova realidade se fez, com a certeza de que foram, cada qual, para sempre felizes.


Ana Paula Sobreira
Barrinha MaynaBaby

quinta-feira, 2 de junho de 2011

O Canto da Patativa


SOU FIO DAS MATA, CANTÔ DA MÃO GROSA
TRABAIO NA ROÇA, DE INVERNO E DE ESTIO
A MINHA CHUPANA É TAPADA DE BARRO
SÓ FUMO CIGARRO DE PAIA DE MIO.

SOU POETA DAS BRENHA, NÃO FAÇO O PAPÉ
DE ARGUM MENESTRÊ, OU ERRANTE CANTÔ
QUE VEVE VAGANDO, COM SUA VIOLA,
CANTANDO, PACHOLA, À PERCURA DE AMÔ.

NÃO TENHO SABENÇA, POIS NUNCA ESTUDEI,
APENAS EU SEIO O MEU NOME ASSINÁ.
MEU PAI, COITADINHO! VIVIA SEM COBRE,
E O FIO DO POBRE NÃO PODE ESTUDÁ.

MEU VERSO RASTERO, SINGELO E SEM GRAÇA,
NÃO ENTRA NA PRAÇA, NO RICO SALÃO,
MEU VERSO SÓ ENTRA NO CAMPO DA ROÇA E DOS EITO
E ÀS VEZES, RECORDANDO FELIZ MOCIDADE,
CANTO UMA SODADE QUE MORA EM MEU PEITO.


 
Um dos maiores poetas populares do Brasil, Patativa do Assaré tem uma obra riquíssima, de valor inestimável. Nascido em 1909, no Ceará, faleceu aos 93 anos, em 2002, e ampliou, com sua obra, o nosso caldo cultural com suas composições.

Alfabetizado aos doze anos, e tendo passado apenas quatro meses numa escola, Patativa fez a grande viagem do mundo da leitura para a leitura do mundo. Sua poesia é uma poesia cidadã, política, não no sentido militante do termo, panfletário, mas no sentido de compreender seu estar no mundo e usar sua voz para falar de grandes temas sociais – sua poesia é um canto de liberdade que ecoa nos corações de que a lê.
Barrinha MaynaBaby

quarta-feira, 1 de junho de 2011

INESPERADO SENTIMENTO

O que acontece com o coração apaixonado? Que estranhas transformações ocorrem no imo de cada ser que, de repente, se vê entrelaçado a outro, inexoravelmente? Como, em que momento, por que nos apaixonamos, ainda que tentemos evitar, ainda que não esperássemos por isso, ainda mesmo que não tenhamos desejado o acontecimento da paixão?

Dizer que o coração tem razões que a própria razão desconhece é shakespeariano demais em tempos hodiernos, mas assim que nos deparamos com um sentimento que vai, como formiguinha, lentamente, pacientemente, continuamente, tomando conta de nosso coração, apossando-se dele, fazendo dele sua morada, então descobrimos que há mais verdade nessas palavras do que supunha nossa cínica desconfiança, nossa prepotente visão.
Barrinha MaynaBaby