Faço hoje 40 anos. É claro que é uma data importante, e justamente por isso me entretive em reler as páginas de minhas memórias, refletindo sobre mim mesma, os ganhos e perdas que tive, o quanto pude aprender, o quanto ainda preciso, enfim, um balanço.
Nesse movimento de busca de mim mesma, não pude deixar de pensar em Victor Hugo, que nos anuncia de modo tão generoso: "cada idade tem o seu prazer e a sua dor". Nas dores, não penso muito; são necessárias, têm o seu papel, mas não preciso ficar agarradas a elas o tempo todo - me desapego fácil. Aproveito o sabor, o cheiro, a sensação, o prazer de cada momento vivido.
Como me sinto aos 40? Feliz. Não completa, porque a incompletude é a grande dádiva que recebemos da vida. Como disse Guimarães Rosa: "o senhor mire e veja, o mais importante do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, mas que elas vão sempre mudando". Estamos sempre por nos refazer. E essa certeza de que não estou pronta e ainda posso crescer como pessoa me permite um desdobramento indescritível.
A vida é um pulsar. Um movimento constante de contração e expansão. Contraídos, respeitamos nossos limites, nos estruturamos; expandidos, nos lançamos para a vida, nos aventuramos, e com isso crescemos. É algo extraordinariamente intenso.
Assim, para mim, fazer aniversário é mesmo completar primaveras: época de renovação, de desabrochar para uma nova instância do real, com todas as suas possibilidades. Sou o depositário de minhas experiências, a soma de todos com quem pude conviver - ao ver, ouvir, falar, tocar, sentir, cheirar, ler, compreender, amar. Sou muitas em uma só - sou ao mesmo tempo singular e plural. E o ensejo de um novo ano abre um portal para uma outra dimensão da minha existência, me permitindo a transformação necessária que mantém a latência desse pulsar.
O que espero de mim? Ser toda em cada coisa que fizer, como me aconselha o meu querido Pessoa.
Beijo no coração de todos. E "xerinho" do bom.
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